Uma cirurgia pélvica neurológica raramente realizada no Canadá trouxe à tona a urgência de ampliar o acesso a tratamentos especializados para mulheres com endometriose. O procedimento, conhecido como neuropelveologia, foi realizado no The Ottawa Hospital e tratou dores intensas e limitações funcionais causadas pelo comprometimento dos nervos pélvicos da paciente.
Em entrevista à CBC News, Dr. Nucelio Lemos, professor do departamento de ginecologia e obstetrícia e uroginecologista em Toronto, destacou que esse tipo de cuidado ainda é extremamente restrito. “Não tenho conhecimento de nenhum centro que ofereça esse tipo de atendimento fora de Ontário”, afirmou. Segundo ele, é fundamental avançar na criação de centros de excelência capazes de suprir essa lacuna no sistema de saúde.
O Dr. Lemos é titular da Cátedra Friedrichsen Cooper de Endometriose e Dor Pélvica Crônica no Mount Sinai Hospital, em Toronto, que abriga a principal — e única — clínica dedicada à neuropelveologia no país. Ele explica que a limitação de acesso está diretamente ligada ao fato de a neuropelveologia ser uma disciplina relativamente nova, desenvolvida no início dos anos 2000, com poucos especialistas capacitados para diagnosticar e realizar cirurgias complexas associadas a condições como a endometriose. Mesmo entre os profissionais treinados, a falta de recursos e de infraestrutura adequada ainda é um obstáculo frequente.
A endometriose ocorre quando tecido semelhante ao revestimento do útero cresce fora dele, afetando ao menos uma em cada dez meninas e mulheres no Canadá. Os sintomas variam de leves a graves e podem comprometer profundamente a qualidade de vida. No caso tratado em Ottawa, a equipe médica se preparou para a cirurgia mapeando a doença com o uso de imagens em realidade virtual, o que facilitou o planejamento, o treinamento do time e a compreensão do procedimento pela própria paciente.
A realização da cirurgia só foi possível graças a subsídios provinciais e ao financiamento do hospital. Ainda assim, segundo Singh, uma das vozes envolvidas na defesa da causa, esse modelo não é suficiente para tornar o procedimento acessível a mais pacientes. Como resultado, muitas mulheres acabam sem opções de tratamento dentro do país, a menos que possam custear cuidados no exterior.
Diante desse cenário, defensores pressionam o governo federal no Canadá a desenvolver e financiar um plano nacional de ação coordenado para a endometriose, a exemplo do que já foi implementado na Austrália e na França. Em Ontário, o NDP também pede a criação de um plano provincial, alertando que algumas pacientes estão sendo forçadas a buscar atendimento fora do Canadá.
“Isso trará um retorno positivo sobre o investimento”, afirmou Singh. “Você traz a Danika de volta ao trabalho como professora. Reúne famílias novamente depois de anos de sofrimento. Você as torna mais saudáveis e melhores.”
Danika Fleury, a paciente submetida à neurocirurgia pélvica, também decidiu compartilhar sua história como forma de apoiar outras mulheres que convivem com a endometriose. Ainda em recuperação da cirurgia realizada no outono, ela já projeta o retorno à sala de aula no programa de imersão em francês da Broadview Public School, além de retomar caminhadas e viagens — paixões que haviam sido interrompidas pela doença.
“A melhor coisa que me aconteceu foi simplesmente recuperar a qualidade de vida que eu havia perdido”, disse Fleury. “Isso realmente me devolveu meu brilho, minha luz e minha esperança no futuro.”
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