Aspectos gerais da lesão medular (parte 2)



Qualquer pessoa que venha a ter um trauma significativo na cabeça ou no pescoço precisa de avaliação médica imediata para a possibilidade de lesão na coluna. 

Na verdade, é mais seguro presumir que as vítimas de trauma têm uma lesão na coluna até que se prove o contrário. Isso porque uma lesão medular grave nem sempre é imediatamente óbvia. Se não for reconhecida desta forma, uma lesão mais grave pode vir a acontecer.

Dormência ou paralisia podem suceder imediatamente ou gradualmente, à medida que ocorre sangramento ou inchaço na medula espinhal ou ao redor dela. 

O tempo entre a lesão e o tratamento é fundamental para determinar a gravidade das complicações, bem como a possível extensão da recuperação esperada.

Causas

Lesões da medula espinhal podem resultar de danos às vértebras, ligamentos, discos da coluna vertebral ou à própria medula espinhal. 

Uma lesão traumática pode resultar de um golpe súbito e traumático na coluna que fratura, desloca, esmaga ou comprime uma ou mais de suas vértebras. 

Também pode ser resultado de um ferimento de um tiro ou faca que penetra e corta a medula espinhal. Danos adicionais geralmente ocorrem ao longo de dias ou semanas por causa de sangramento, inchaço, inflamação e acúmulo de líquido na medula e ao redor dela.

Já uma lesão da medula espinhal não traumática pode ser causada por artrite, câncer, inflamação, infecções ou degeneração do disco da coluna vertebral.

Cérebro e sistema nervoso central

O sistema nervoso central consiste no cérebro e na medula espinhal. Feita de tecido mole e rodeada por ossos (vértebras), a medula se estende para baixo a partir da base do cérebro e é composta de células nervosas e grupos de nervos chamados tratos, que vão para diferentes partes do corpo.

A extremidade inferior da medula espinhal termina um pouco acima da cintura, na região chamada de cone medular. Abaixo desta região está um grupo de raízes nervosas chamadas cauda equina.

Tratos na medula espinhal transmitem mensagens entre o cérebro e o resto do corpo. Os tratos motores transmitem sinais do cérebro para controlar o movimento muscular. Os tratos sensoriais carregam sinais de partes do corpo para o cérebro, relacionados ao calor, frio, pressão, dor e a posição dos membros.

Danos às fibras nervosas

Seja a causa traumática ou não traumática, o dano afeta as fibras nervosas que passam pela área lesada e pode prejudicar parte ou todos os seus músculos e nervos correspondentes abaixo do local da lesão.

Uma lesão no peito (torácica) ou na região lombar (lombar) pode afetar o tronco, as pernas, a função sexual e o controle do intestino e da bexiga. Uma lesão no pescoço (cervical) afeta as mesmas áreas, além de afetar os movimentos dos braços e, possivelmente, a capacidade de respirar.

Causas comuns de lesões da medula espinhal

As causas mais comuns de lesões da medula espinhal no Brasil são:

  • Acidentes com veículos motorizados – Acidentes de trânsito são a principal causa de lesões na medula espinhal e respondem por quase metade dessas incidências todos os anos;
  • Quedas – Ocorre mais frequentemente com pessoas acima dos 65 anos. As quedas correspondem a cerca de 31% das lesões na medula espinhal;
  • Atos de violência – Mais de 13% das lesões na medula resultam de encontros violentos, sobretudo envolvendo ferimentos a bala. Perfurações provocadas por faca também são comuns nesta estatística;
  • Lesões esportivas e recreativas – Atividades atléticas, como esportes de impacto e mergulho em águas rasas, causam cerca de 10% dos traumas na medula espinhal;
  • Álcool – A ingestão de bebidas alcoólicas é um fator presente em aproximadamente 25% das incidências de lesões na medula;
  • Doenças – Câncer, artrite, osteoporose e inflamação da medula espinhal também podem causar esse tipo de dano.

Fatores de risco

Embora a lesão geralmente seja o resultado de um acidente e possa acontecer com qualquer pessoa, alguns fatores podem predispor a pessoa a um risco maior:

  • Ser homem – Esse tipo de ferimento afeta um número desproporcional de homens. Na verdade, as mulheres são responsáveis por apenas cerca de 20% das lesões traumáticas da medula espinhal nos Estados Unidos;
  • Ter entre 16 e 30 anos de idade – É mais provável que você sofra um trauma como esse se estiver dentro dessa faixa etária. Porém, a idade média no momento da lesão é 43 anos;
  • Ter mais de 65 anos – Em casos de lesão por queda;
  • Envolver-se em comportamento de risco – Mergulhar em águas muito rasas ou praticar esportes sem usar o equipamento de segurança adequado e sem tomar as devidas precauções;
  • Ter um distúrbio ósseo ou articular – Um ferimento relativamente pequeno pode causar uma lesão da medula espinhal se a pessoa tiver outro distúrbio que afete os ossos ou articulações, como artrite ou osteoporose.

Complicações

No início, as mudanças no funcionamento do corpo podem ser devastadoras. Porém, a equipe de reabilitação responsável ajudará o paciente a desenvolver as ferramentas necessárias para enfrentar as alterações causadas pela lesão medular, além de recomendar equipamentos e recursos que promovam qualidade de vida e independência. 

As áreas frequentemente afetadas incluem:

  • Controle da bexiga – A bexiga continuará a armazenar urina. No entanto, o cérebro pode não ser capaz de controlar este órgão porque o portador da mensagem (a medula espinhal) foi ferido. As mudanças no controle da bexiga aumentam o risco de infecções no trato urinário e cálculos na bexiga;
  • Controle intestinal – Embora o estômago e intestinos funcionem de maneira muito semelhante à anterior à lesão, o controle dos movimentos intestinais costuma ser alterado;
  • Úlcera de pressão – A pessoa pode perder parte ou todas as sensações da pele, ficando impossibilitada de enviar uma mensagem ao cérebro, como por exemplo pressão prolongada, calor ou frio;
  • Controle circulatório – Uma lesão na medula espinhal pode causar problemas circulatórios que variam de hipotensão ortostática – a pressão arterial baixa quando a pessoa se põe de pé a partir da posição sentada ou deitada – a inchaço das extremidades. Essas alterações na circulação também podem aumentar o risco de desenvolver coágulos sanguíneos, como trombose venosa profunda ou embolia pulmonar. Outro problema com o controle circulatório é um aumento potencialmente fatal da pressão arterial, conhecido como hiperreflexia autonômica;
  • Sistema respiratório – A lesão pode dificultar a respiração e a tosse se os músculos abdominais e torácicos forem afetados. Isso inclui o diafragma e os músculos da parede torácica e do abdome. O nível neurológico de lesão determinará que tipo de problemas respiratórios. Se a lesão for na medula espinhal cervical e torácica, pode haver um risco aumentado de pneumonia ou outros problemas pulmonares;
  • Tônus muscular – Algumas pessoas com lesões na medula espinhal apresentam um dos dois tipos de problemas de tônus muscular: contração ou movimento descontrolado dos músculos (espasticidade) ou músculos moles e flácidos com falta de tônus muscular (flacidez);
  • Sarcopenia – A perda de peso e a atrofia muscular são comuns logo após esse tipo de ferimento. A mobilidade limitada pode levar a um estilo de vida mais sedentário, podendo resultar em obesidade, doenças cardiovasculares e diabetes;
  • Saúde sexual – Os homens podem notar mudanças na ereção e na ejaculação, as mulheres podem perceber alterações na lubrificação;
  • Dor – Algumas pessoas sentem dores nos músculos ou nas articulações devido ao uso excessivo de grupos musculares específicos. A dor nervosa pode ocorrer após uma lesão da medula espinhal, especialmente em alguém com uma lesão incompleta;
  • Depressão – Combater todas as mudanças que uma lesão dessa proporção traz e viver com dor são fatores que levam algumas pessoas a desenvolverem um quadro de depressão;
  • Hipotensão postural – É consequência da vasodilatação abaixo do nível de lesão medular e consequente represamento de sangue nos membros inferiores, além da ausência ou diminuição dos reflexos vasomotores posturais. A elevação brusca do decúbito, ao assumir a posição sentada ou em pé́, provoca queda da pressão arterial sistólica e diastólica, manifestando-se clinicamente como tontura, escurecimento da visão, zumbido e até́ síncope.

Prevenção

  • Dirija seguramente. Acidentes de trânsito são uma das causas mais comuns de lesões na medula espinhal. Use o cinto de segurança toda vez que você dirigir ou andar de carro;
  • Certifique-se de que seus filhos usem cinto de segurança ou uma cadeira de segurança infantil apropriada para a idade e o peso. Para protegê-los de lesões no airbag, crianças menores de 12 anos devem sempre viajar no banco de trás;
  • Verifique a profundidade da água antes de mergulhar. Para ter certeza de não mergulhar em águas rasas, não mergulhe em uma piscina a menos que esteja a 12 pés (cerca de 3,7 metros) ou mais profunda, não mergulhe em uma piscina acima do solo e não mergulhe em nenhuma água que você não conhece a profundidade;
  • Previna quedas. Use um banquinho com uma barra de apoio para alcançar objetos em lugares altos. Adicione corrimãos ao longo das escadas. Coloque tapetes antiderrapantes no piso de cerâmica e na banheira ou no chuveiro. Para crianças pequenas, use portas de segurança para bloquear escadas e considere a instalação de proteções de janela;
  • Tome precauções ao praticar esportes. Sempre use o equipamento de segurança recomendado. Evite liderar com a cabeça nos esportes. Por exemplo, não deslize de cabeça no beisebol e não ataque usando a parte superior do capacete no futebol. Use um observador para novos movimentos na ginástica;
  • Se for dirigir, não beba. Não conduza qualquer veículo se estiver embriagado ou sob a influência de drogas. Não ande com um motorista que bebeu.