A incontinência urinária é frequente em homens que passam por cirurgia ou radioterapia para o câncer de próstata. Estudos indicam que cerca de 40 a 60% dos pacientes que passam pela prostatectomia, intervenção cirúrgica para a retirada da próstata, acabam apresentando algum grau de incontinência.
Apesar de ser um percentual elevado de ocorrências, muita coisa pode ser feita para amenizar e até curar este problema. Conversamos com o Dr. Marcos Tobias Machado, urologista da Equipe Increasing, que esclareceu uma série de questões sobre este assunto. Confira:
Quais fatores podem contribuir para a incontinência urinária no pós-operatório?
Dr. Marcos Tobias Machado: Existem os fatores cruciais relacionados à anatomia do paciente, assim como aspectos relacionados à extensão do câncer, sendo ambos os casos influenciados pela experiência e habilidade do cirurgião. Também contribuem para a incontinência alguns fatores secundários, tais como a reconstrução dos tecidos da uretra e da bexiga do paciente. Vale ressaltar que esses tecidos podem indicar um grau de doença mesmo antes da operação.
Como o cirurgião pode prevenir a ocorrência de perda de urina após uma cirurgia para o câncer da próstata?
Dr. Marcos Tobias Machado: A preservação das estruturas anatômicas ligadas à função de continência são fundamentais para um excelente resultado funcional. Também é importante que sejam preservados, sempre que possível, o comprimento máximo da uretra, as fibras do esfíncter, o colo vesical, o colar pubovesical e a banda neurovascular.
Tudo isso está associado a melhores taxas de continência após um ano de cirurgia e uma recuperação mais rápida do controle urinário. Técnicas com magnificação da imagem, como a laparoscópica e a robótica, também auxiliam muito nesse objetivo. Em casos selecionados já com problemas urinários, um preparo com fisioterapia antes da cirurgia pode também ser bastante útil.
É comum o paciente apresentar uma melhora espontânea após os primeiros meses de pós-operatório?
Dr. Marcos Tobias Machado: Sim. A maioria dos pacientes apresenta algum grau de incontinência urinária que normalmente se resolve num intervalo de três a doze meses após a cirurgia radical da próstata. Técnicas modernas com máxima preservação das estruturas, como a prostatectomia robótica Retzius Sparing, apresentam as menores taxas de incontinência descritas na literatura médica. Nesses casos, pode-se chegar a 90% de resolução em 30 dias após o procedimento. Somos os pioneiros nesse tipo de operação na América Latina e a realizamos como rotina já há quatro anos com ótimos resultados.
Quais são os recursos disponíveis para o tratamento da incontinência nesses casos?
Dr. Marcos Tobias Machado: A abordagem inicial sempre incluiu um protocolo de fisioterapia pélvica. Muitas vezes eles estão associados ao uso da eletroestimulação e do biofeedback, que consiste na monitoração de diversas funções involuntárias do corpo, de modo que a pessoa seja treinada e passe a ter mais controle sobre o organismo.
Em alguns casos em que são verificadas perdas por hiperatividade da musculatura da bexiga, podemos receitar medicações via oral ou botox intravesical. Na falha dessas alternativas, podemos lançar mão de cirurgias. As técnicas mais comuns são o emprego da faixa suburetral (sling masculino), normalmente utilizado em casos de menor volume de perda, e o esfíncter artificial para casos com maior gravidade.
Há algo que o paciente que passará por uma cirurgia de próstata possa fazer para prevenir a incontinência?
Dr. Marcos Tobias Machado: Antes da cirurgia o paciente pode ser orientado sobre a consciência da musculatura perineal e assim realizar os chamados exercícios de Kegel, que acabam auxiliando na recuperação da função urinária.
Há uma faixa etária que demonstra maior recorrência de incontinência após a prostatectomia?
Dr. Marcos Tobias Machado: Quanto mais velho o paciente maior a chance de ter uma incontinência no pós-operatório. Isso deve ser discutido sempre com o paciente antes do tratamento, uma vez que a percepção do problema varia muito de paciente para paciente. Enquanto para alguns estar livre do câncer e ter um pequeno volume de perda não incomoda muito, para outros, mesmo curados, a perda de urina pode ser uma catástrofe na qualidade de vida. Por isso é sempre importante apresentar antes do ato operatório os possíveis efeitos, os possíveis resultados do tratamento e esclarecer todas as dúvidas do paciente.