A endometriose é uma doença caracterizada pelo desenvolvimento de nódulos de endométrio fora da cavidade uterina.
Estima-se que este problema ocorra em uma a cada dez mulheres, e os sintomas mais frequentes são as cólicas menstruais e dor na relação sexual, principalmente à penetração profunda.
Os órgãos mais afetados pela endometriose são as trompas, ovários, intestinos e bexiga, mas várias outras partes do corpo também podem ser prejudicadas, como, por exemplo, os nervos que cruzam a pelve.
Conversamos com os Drs. Gustavo Fernandes (CRM-SP: 112.928) e Nucelio Lemos (CRM-SP: 113.015), do Núcleo de Neuropelveologia do Increasing, para discutir os sintomas e o tratamento do acometimento de nervos pela endometriose. Acompanhe a entrevista!
Quando a endometriose pode acometer algum nervo?
Dr. Nucelio – A incidência da endometriose acometendo nervos é descrita na literatura médica como rara. Porém, os estudos mais recentes da Neuropelveologia já indicam que isso não é algo tão incomum quanto se pensava.
Em geral, a endometriose chega aos nervos sacrais ao infiltrar os ligamentos que prendem o útero às paredes pélvicas. Isso produz sintomas como dor no lábio vaginal, no ânus ou atrás da perna (nervo ciático).
E nesses casos, quais nervos podem ser prejudicados?
Dr. Gustavo – Qualquer nervo que cruze a pelve pode ser afetado. Na literatura e na nossa prática clínica encontramos o acometimento dos nervos pudendo, ciático e das raízes sacrais, que são as ramificações da medula espinhal que irão formar os nervos periféricos. Mais frequentemente ainda, a endometriose envolve os nervos autonômicos, os mesmos que controlam a bexiga e o intestino, causando dor e dificuldade no controle da urina e das fezes.
Quais são os sintomas da endometriose no nervo ciático?
Dr. Gustavo – Os sintomas são parecidos com os problemas de coluna que atingem o nervo ciático, ou seja: dor, queimação ou formigamento na parte posterior da perna e do glúteo. Para suspeitarmos de que a causa desta ciatalgia (dor no nervo ciático) seja de fato a endometriose, devemos ter sintomas associados como cólica menstrual e dor na relação sexual. Geralmente, a ciatalgia é pior no período menstrual, melhorando muito ou desaparecendo após a menstruação.
É comum haver casos assintomáticos mesmo com nervos afetados pela doença?
Dr. Nucelio – A endometriose pode ser assintomática, porém, quando há o acometimentos de nervos, os sintomas são muito intentos e característicos.
A doença pode causar lesões nervosas a ponto de acarretar prejuízo funcional, sensorial ou motor dos órgãos?
Dr. Gustavo – Os nervos são estruturas delicadas e protegidas por um tecido gorduroso que facilita seu deslizamento com o movimento. Além disso, existe a bainha de mielina, que faz parte da estrutura celular do neurônio, célula que por sua vez forma o nervo. A endometriose pode destruir essas estruturas, levando à alteração da função do nervo acometido com prejuízo sensorial e motor. Vale destacar que a endometriose pode infiltrar os nervos e destruir os axônios dos neurônios, causando perdas permanentes de função.
Quais são as opções de tratamento em casos de nervos comprometidos?
Dr. Nucelio – Os tratamentos hormonais são capazes de bloquear os sintomas da endometriose, mas não o avanço da doença. Deste modo, o tratamento da endometriose nos nervos deve ser cirúrgico, a fim de evitar a progressão da lesão nervosa, que pode ser irreversível.
Endometriose tem cura?
Dr. Nucelio – Este é um tema que divide opiniões entre especialistas. Nós do Increasing acreditamos que se todos os nódulos forem completamente extirpados a doença de base será curada.
Vale ressaltar que a dor crônica causada pela endometriose causa alterações no sistema nervoso e na postura das mulheres acometidas. Estas alterações podem causar a persistência ou cura somente parcial dos sintomas. Por isso, a abordagem multiprofissional é essencial em todas as formas graves da doença.
Dr. Gustavo – Às vezes encontramos muito conteúdo distorcido na internet, o que gera desinformação. Tem muita gente que acha que mulheres com endometriose precisarão fazer diversas cirurgias e mesmo assim terão de conviver com frequentes recidivas. Nós do Increasing acreditamos que esses casos de recidiva ou persistência sejam causados por um diagnóstico incorreto ou por falha em tratar as alterações neuropsicológicas e musculares da dor crônica.
Também é importante destacar que, muitas vezes, a endometriose é responsável pelo quadro inicial de dor da paciente, mas outros mecanismos reativos do corpo irão perpetuar aquele quadro doloroso. Muitas vezes a cirurgia resolve a endometriose, mas não resolve a dor. Para resolver este problema precisamos de uma equipe multidisciplinar no tratamento da dor e da endometriose. No Increasing temos esse time de profissionais à disposição.