Como a fisioterapia cardiorrespiratória impacta na atividade cerebral?


Os exercícios em geral promovem diversas mudanças em nosso corpo. Na maioria das vezes, somente nos preocupamos com os efeitos mais visuais que eles propõem, por exemplo, definição muscular, melhora da função cardiovascular e respiratória durante uma caminhada ou de funções que antes eram difíceis de realizar e que ficaram mais fáceis após a prática regular de exercícios.

Todos os exercícios impactam diretamente na função cerebral e consequentemente no organismo, mas a Fisioterapia Cardiorrespiratória demonstra ter agilidade para promover estas modulações cerebrais. Esta especialidade da Fisioterapia detém de diversas ferramentas e técnicas que permeiam entre os exercícios mais conhecidos, com outros mais específicos, otimizando os ganhos da função cardiovascular e respiratórias de forma rápida. 

Durante a atividade física, e em maior demanda na fisioterapia cardiorrespiratória, as células cerebrais funcionam em altos níveis. Isso ocorre pela maior capitação de oxigênio nos pulmões e de outras fontes que auxiliam a produção de energia por elas. Sabe-se que quanto mais exercícios o indivíduo pratica, mais mitocôndrias (organela celular responsável pela produção de energia) são produzidas, o que facilita a distribuição de energia e a atividade cerebral durante e após o exercício. 

Estas atividades cerebrais estão intimamente ligadas com a produção de substâncias químicas conhecidas como neurotransmissores (substâncias químicas produzidas pelos neurônios e são usadas para transmitir informação entre eles) e neuro-hôrmonios. Ainda, os músculos podem interferir nesta atividade com proteínas provenientes da contração favorecidas pelo exercício.    

Neurotransmissores, Neuro-hormônios e Proteínas: 

Ora, produzimos durante e após a atividade física, diversos neuro-hormônios e neurotransmissores que modulam o nosso organismo. Um dos mais comentados é a serotonina, um neurotransmissor responsável pelo auxilio na regulação do estado de humor, liberado logo após o término da atividade física, dando a sensação de bem estar. A endorfina, dopamina e ocitocina são neuro-hormônios e apresentam atividade funcional e efeitos semelhante ao da serotonina. 

A testosterona é um hormônio que estimula a reconstrução do tecido muscular exigido durante o exercício, colaborando com o ganho de força e hipertrofia. Já a adrenalina, um hormônio liberado no organismo em vários picos de curta duração para promoção de grandes esforços. Para isso, há o aumento da queima de gordura para produção de energia e esta queima é proporcional a quantidade de energia dispendida para o exercício.

Além dos hormônios, as proteínas também auxiliam ao aumento da atividade celular. As miocinas (proteínas excretadas das células musculares) favorecem a criação de vasos sanguíneos e de novos circuitos no cérebro, o que facilita a atividade cerebral e colabora na prevenção de doenças degenerativas como o Parkinson e o Alzheimer.

Dentre algumas miocinas temos a irizina que aumenta a comunicação neuronal facilitando a neuroplasticidade (capacidade de mudança e adaptação do sistema nervoso de forma estrutural e/ou funcional durante o desenvolvimento ou porém novos estímulos interpostos) e a memória, tanto muscular quanto a cerebral. Já miostatina, um outro tipo de miocina, é utilizada para controle do crescimento muscular de forma harmônica e sem prejuízos ao organismo.

Ainda, as miocinas são conhecidas como o anti-inflamatório natural do corpo, o que justifica na maioria das vezes, que o exercício melhora a dor do individuo, pois são produzidas pela contração muscular, logo quanto maior é a atividade, maior é quantidade de miocinas liberadas.

Vista disso, a fisioterapia cardiorrespiratória interfere no aumento destes neurotransmissores, hormônios e proteínas, impactando muito positivamente no organismo. Isto ocorre devido as atividades para melhorar a função coração-pulmão e pelo aumento da captação de oxigênio promovido pelos exercícios e instrumentos utilizados pelo individuo durante o treino. Ou seja, quanto maior for a prática de exercícios, melhor será a resposta cardiorrespiratória e cerebral a estes indivíduos.

* O Dr. Wellington Contiero - CREFITO-3: 129.804-F, especialista em Fisioterapia Cardiorrespiratória da Equipe INCREASING, escreveu este artigo.

Referências Bibliográficas: 

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