Por dentro da moda inclusiva


Ergonomia, funcionalidade, conforto. Tudo isso é levado em consideração quando se projeta uma peça de roupa, porém, quando a ideia é atender a um público formado por pessoas com dificuldades de locomoção ou algum tipo de deficiência, exige-se atenção redobrada a tais características. Daí a importância da moda inclusiva, nicho da indústria têxtil que busca facilitar o cotidiano de quem necessita de mais cuidados com mobilidade, promovendo assim a inclusão social. Para falar sobre esse tema em ascensão, convidamos a Terapeuta Ocupacional da Equipe Increasing, Maria Clara Pinto Pfister. Confira a entrevista:

Como você definiria a moda inclusiva para quem nunca ouviu falar sobre?

Maria Clara Pinto Pfister: Trata-se da moda que pode ser usada por qualquer pessoa, ou seja, uma moda que veste todos os tipos de corpos, por exemplo, sem discriminar uma pessoa com deficiência ou tenha qualquer tipo de limitação em seu corpo.

Como é o perfil da pessoa que busca por esse tipo de vestuário?

Maria Clara Pinto Pfister: Geralmente quem procura por roupas adaptadas são pessoas com limitações motoras que as impedem de manusear botões e zíperes, alcançar e vestir uma calça jeans, por exemplo.

Qual é o papel do profissional da saúde quando se fala em moda inclusiva?

Maria Clara Pinto Pfister: O profissional da saúde é capacitado a avaliar se uma peça de roupa pode ou não prejudicar a saúde da pessoa que a utiliza, principalmente quando se trata de adaptações na peça de roupa. Por exemplo, o profissional pode avaliar se um zíper a mais pode causar ferida na pele daquele paciente ou se o material que compõe a calça junto com a fralda no assento da cadeira de rodas pode elevar a temperatura do corpo da pessoa causando mal-estar. Com essa visão apurada podemos prevenir problemas futuros com as roupas após a entrega da peça.

Como você enxerga o elo entre moda inclusiva e Terapia Ocupacional?

Maria Clara Pinto Pfister: O Terapeuta Ocupacional tem como principal papel avaliar as tarefas do dia a dia e identificar possíveis dificuldades em realizá-las. É o profissional que desenvolve produtos adaptados para uma demanda específica. Sendo assim, o paciente traz a queixa de vestuário e o profissional adapta com objetivo terapêutico, ou seja, não somente para ficar bonito, mas para trazer funcionalidade eu independência para aquela pessoa.

Quais são as inovações por trás da moda inclusiva?

Maria Clara Pinto Pfister: Hoje as pessoas têm buscado adaptar suas roupas por conta própria ou com terapeuta ocupacional por conta dos cuidados em saúde. Juntos buscamos materiais diferentes, como tecidos termorreguláveis, com textura suave, costura em locais estratégicos que não provoquem úlceras de pressão. Muitas vezes só uma reorientação de uso ou fortalecimento de determinada musculatura faz com que a pessoa consiga se vestir ou se despir sozinha novamente, o que é interessante pois esta não fica dependente de uma peça de roupa específica. Ou seja, a inovação está no olhar do profissional, não somente em novos produtos.

Poderia citar algumas características particulares sobre esse tipo de roupa?

Maria Clara Pinto Pfister: São muitas adaptações. Como a demanda vem da necessidade particular de cada paciente, todos dia surge uma nova solução. Há tecidos leves que permitem a passagem de ar ou que evitam pontos de pressão sob o assento; aberturas estratégicas, como velcro e zíperes nas laterais da roupa; alças para facilitar o alcance nas barras de calças, ganchos ou utensílios que facilitem a preensão do tecido/botão/zíper; adaptação de velcro em pontos estratégicos, além de botões e materiais resistentes para facilitar a transferência da pessoa que assim necessita, porém mantendo conforto da peça, sempre evitando lesão na pele.

Muitos dizem que esse nicho já é um movimento mundial. Mas como isso é visto aqui no Brasil?

Maria Clara Pinto Pfister: No Brasil já possui um movimento de estímulo à cultura de moda inclusiva, como os concursos de moda inclusiva que acontecem há dez anos e premiam alunos com trabalhos lindíssimos, alguns deles chegaram a desenvolver marcas de roupas inclusivas influenciados por empresas que estão fazendo isso fora do Brasil. Mas ainda sim por aqui a visão da moda inclusiva está no início, começando a ser reconhecida como mercado, o que significa que ainda não chegaram até as grandes empresas têxteis. Acredito que algo que ajuda nesse processo são as universidades de moda que já possuem matérias optativas de moda inclusiva e incentivam os alunos a criarem projetos nessa linha.

Quais são os principais desafios para a evolução do setor?  

Maria Clara Pinto Pfister: Um grande desafio é mostrar para o mundo que pessoas com deficiência também possuem desejo de moda, que são uma parcela grande da população (29%) e que parte delas possuem sim poder de compra. Algo que estamos criando aos poucos é a cultura de que vale a pena o mundo da moda se dedicar a esse setor. Essas pessoas podem e querem comprar, mas não têm onde fazê-lo.

O que o Increasing tem a oferecer para quem precisa da moda inclusiva?

Maria Clara Pinto Pfister: Por meio da equipe de Terapia Ocupacional, o Increasing divulga e endossa a importância da moda inclusiva oferecendo esse serviço, que é difícil de ser encontrado.