Benefícios do uso da órtese



Importante no auxílio da reabilitação física e no processo de uma série de tratamentos, a órtese pode ser utilizada de diversas formas para aprimorar a funcionalidade do corpo. Conversamos com Vanessa Cristina Arakaki, Terapeuta Ocupacional da equipe do Increasing, que pode nos esclarecer muitos aspectos sobre o uso desse tipo de dispositivo. Confira:

- Qual é a definição de órtese?

Vanessa Cristina Arakaki: A palavra órtese deriva do termo grego ortho que significa reto, direito, correto. É um dispositivo utilizado para modificar as características estruturais e funcionais de uma parte do corpo com objetivo de estabilizar ou imobilizar, manter um determinado alinhamento, evitar contraturas e deformidades, proteger estruturas e articulações, promover o alongamento, aliviar a dor, facilitar a higienização e restaurar a função.

- O que a difere de uma prótese?

Vanessa Cristina Arakaki: Embora haja muita confusão, prótese, diferentemente da órtese, é um dispositivo que serve para substituir um membro, órgão ou tecido, seja total ou parcialmente. O tipo mais conhecido é a prótese utilizada por aqueles que sofreram amputação de braço e/ou perna, mas também existem as próteses dentárias, de quadril, de mama, entre muitas outras.

- Quais são os tipos conhecidos desse dispositivo?

Vanessa Cristina Arakaki: Há vários tipos de órtese existentes dependendo da estrutura corporal acometida e de seu objetivo. A palmilha e colete ortopédicos e o aparelho ortodôntico são alguns tipos de órtese, por exemplo. Quando falamos em reabilitação física, especificamente da atuação da Terapia Ocupacional, as órteses para as mãos têm papel fundamental no processo terapêutico.

Basicamente, podemos classificar as órteses de mão em dois tipos: pré-fabricadas e sob medida. As órteses pré-fabricadas são encontradas em farmácias, lojas de material cirúrgico ou ortopédico e até na internet. Já as órteses sob medida são confeccionadas por um profissional qualificado que molda diretamente no braço/mão do paciente, com a possibilidade de utilizar diversos materiais, tais como gesso, gesso sintético e termoplástico de baixa temperatura - o mais utilizado pelos Terapeutas Ocupacionais.

- Como é realizada a avaliação até se chegar a uma órtese de mão prescrita?  

Vanessa Cristina Arakaki: A prescrição deve sempre ser feita pelo Terapeuta Ocupacional ou médico, pois são os profissionais habilitados para avaliar a necessidade de cada paciente. Como há diversos modelos e objetivos das órteses de mão, é imprescindível considerar os aspectos musculoesqueléticos, sensoriais, perceptuais, cognitivos, funcionais, grau de dependência, autonomia e o contexto onde o paciente está inserido.

O processo de confecção das órteses exige um conhecimento técnico aprofundado do profissional (Terapeuta Ocupacional) sobre anatomia, cinesiologia, fisiologia, diagnóstico, princípios biomecânicos, materiais disponíveis e o olhar biopsicossocial e integrado do paciente.

- Há riscos na utilização de órteses que não passaram por uma prescrição de profissional habilitado?

Vanessa Cristina Arakaki: Com certeza! A órtese mal prescrita e/ou confeccionada pode ocasionar diversas lesões e riscos ao paciente, podendo prejudicá-lo durante o processo de recuperação e reabilitação, por exemplo, com feridas na pele, contraturas, desalinhamento articular e dor.

 - Há sempre um processo de tratamento e reabilitação aplicado juntamente com o uso do dispositivo ou também há casos em que somente o uso da órtese já basta?

Vanessa Cristina Arakaki: Vale lembrar que a órtese de mão é um dos recursos terapêuticos utilizados dentro do processo de reabilitação em que há uma equipe interdisciplinar envolvida e integrada ao paciente e sua família. Sua indicação e uso devem estar inseridos no plano de tratamento sob os cuidados do Terapeuta Ocupacional.

- Como podem ser realizados esses tratamentos?

Vanessa Cristina Arakaki: A indicação das órteses de mão dependerá do diagnóstico e objetivos de seu uso dentro do plano terapêutico individualizado. Elas podem ser estáticas (mantém estruturas em uma mesma posição), estáticas seriadas (é remodelada mantendo o tecido no seu comprimento máximo), estáticas progressivas (aplicação de forças inelásticas) ou dinâmicas (aplicação de força para mover a articulação).

Pode-se indicar a troca do gesso pela órtese estática em material termoplástico em casos de lesões ortopédicas - como fraturas - visando conforto, higienização e funcionalidade, assim como indicar a órtese estática seriada para ganho de amplitude de movimento, por exemplo. Nos casos neurológicos, como o AVC (Acidente Vascular Cerebral) ou PC (Paralisia Cerebral), a órtese estática visa à prevenção de contraturas e deformidades. A órtese feita sob medida, diferentemente da pré-fabricada, permite modificar, criar e se adequar ao objetivo particular de cada paciente, respeitando a anatomia humana e potencializando o processo de reabilitação.

- Atualmente, qual é o grau de dificuldade para se conseguir órteses mais específicas no Brasil?

Vanessa Cristina Arakaki: O acesso às órteses de mão confeccionadas com a melhor matéria-prima existente no mercado atualmente, ou seja, o termoplástico de baixa temperatura, ainda é restrito tanto no âmbito público quanto no privado. Como possíveis causas podemos citar seu custo elevado, falta de conhecimento da população e de muitos profissionais, além da carência de locais e Terapeutas Ocupacionais especializados, com consequente dificuldade na avaliação, prescrição e confecção adequadas.

- Como o profissional da saúde pode ter a certeza de que seu paciente terá acesso ao melhor material?

Vanessa Cristina Arakaki: Acredito que a busca pelo conhecimento é o que nos proporciona oferecer o melhor atendimento e cuidado ao ser humano. Ela deve ser contínua e constante para que cada paciente tenha acesso ao melhor material e tecnologia disponíveis, contribuindo para seu processo de reabilitação e retorno às suas atividades de vida diária, de trabalho e de lazer, fortalecendo seus vínculos e papéis sociais.