A importância da Epigenética para o Câncer


Para falar a respeito deste assunto precisamos começar a discorrer sobre o gene, que é o local onde nós armazenamos nossas informações, as características individuais. Os genes possibilitam que com essas informações nós possamos produzir proteínas que serão utilizadas como enzimas, secreções, hormônios, tecidos, algumas células imunológicas, moléculas etc.

Todas essas substâncias terão ações fisiológicas em nosso corpo, que serão chamadas de metabólitos. Em algumas circunstâncias, esses genes podem sofrer alterações, o que pode-se chamar de mutações ou polimorfismos. Mutações como essas ocorrem em menos de 1% da população, enquanto que os polimorfismos ocorrem em mais de 1% da população.

Em 1942, o embriologista e geneticista britânico C. H. Waddington utilizou pela primeira vez a expressão “Epigenética”. Hoje em dia entende-se por Epigenética o estudo das alterações das funções dos genes sem mudanças na sequência do DNA. 

Nós temos um DNA, que é o nosso código genético. Ele não muda, porém, dependendo das nossas ações e do ambiente que nos envolve, nós podemos modificar a expressão desses genes. Essa ciência que estuda tal fenômeno é chamada de Epigenética.

Mecanismos de alterações de genes

Essas alterações podem ocorrer, principalmente, por meio de três mecanismos. A primeira dessas alterações é a metilação do DNA, que são reações muito comuns que ocorrem em determinado local do gene. Esses padrões de metilação são extremamente importantes para garantir a estabilidade do nosso cromossomo. 

Padrões anormais de hipometilação ou hipermetilação podem levar à instabilidade do nosso genoma, o que pode evoluir até se formar um câncer, doenças degenerativas e outras condições clínicas.

Outra modificação epigenética é por meio das modificações das histonas, que são importantes para condensar e proteger esse DNA. O processo epigenético de acetilação das histonas é bastante comum e muito importante na ativação e na inativação de genes, portanto cumpre um papel fundamental na estabilidade do genoma. 

Uma terceira via importante epigenética são os RNAs não codificantes. Enquanto as vias anteriores vão agir no processo de transcrição, os RNAs não codificantes vão agir nas vias de tradução. Isso significa que o microRNA se liga ao RNA mensageiro e regula a expressão dos genes, podendo ligá-los e desligá-los. Isso pode impedir o processo de tradução, que é quando se faz uma proteína que pode virar uma enzima, secreção ou alguma outra molécula.  

Epigenética e o estudo do câncer

A Epigenética tem um papel importante no entendimento da formação de um câncer. Sabemos que aproximadamente 50% dos cânceres têm mutações em proteínas de cromatina, por exemplo.

Muitas vezes, as células malignas têm alterações no padrão de metilação, e na maioria das vezes essas mudanças são causadas por fatores não genéticos. Há fatores nutricionais, hormonais, questões do microambiente (muitas vezes do microambiente tumoral), aspectos relevantes como o envelhecimento e muitos outros.

Podemos exemplificar com o câncer de próstata, que pode ter alterações no processo de metilação, tanto promovendo uma hipermetilação quanto hipometilação, logicamente em momentos diferentes da doença. 

A hipermetilação ocorre normalmente em promotores de genes, ou seja, acarretando em uma supressão de alguns genes, no caso, o supressor de tumor, que é um gene de proteção relacionado ao controle do ciclo celular, à apoptose. Por isso uma supressão desse gene é negativa, ou seja, irá levar a uma maior chance de desenvolvimento do câncer.

Como o processo de hipermetilação está associado à redução da expressão de um gene, essa alteração vai inativar um gene importante no controle da proliferação celular no controle do desenvolvimento do câncer de próstata. Nesse processo, ele vai levar a uma progressão tumoral e até a metástases.

Já o processo de hipometilação está associado a estágios mais avançados do câncer de próstata. A hipometilação vai levar ao aumento da expressão de um gene, o que vai reduzir o processo de metilação, ou seja, um processo de estabilidade do genoma. Por isso, vai levar a uma instabilidade do DNA e a um aumento da hipometilação de promotores de genes individualmente. 

De modo geral, haverá uma instabilidade nesses genes, e alguns genes que não deveriam estar atuando passam a ficar indevidamente ativados. É por isso que no processo de hipometilação há genes que deveriam estar metilados em células normais. Um exemplo desses genes são os oncogenes, sobretudo o myc, que estão ligados ao estímulo da proliferação celular. Sendo assim, quando eles não estão regulados, podem aumentar as chances de desenvolvimento de câncer. 

Por fim, é muito importante ressaltar que atitudes do dia a dia são fatores epigenéticos fundamentais para a manutenção do nosso genoma. Ou seja, manter o controle do estresse e do sono, praticar uma rotina diária de exercícios, além de cultivar uma alimentação moderada e evitar o tabagismo e o consumo de álcool, tudo isso pode fazer diferença para o controle de todos esses processos mencionados anteriormente. 

Por Dra. Adriana Garófolo - CRN: 10744