Aspectos gerais da lesão medular (parte 1)


Uma lesão medular espinhal é caracterizada pelo dano em qualquer parte da medula ou nos nervos do final do canal espinhal, também conhecido por “cauda equina”. Isso pode causar mudanças permanentes na força, na sensibilidade corporal, bem como em outras funções correspondentes ao local abaixo do ferimento. 

Se você sofreu recentemente uma lesão na medula espinhal, isso pode causar a impressão de que todos os aspectos de sua vida foram afetados por conta deste incidente. 

É possível que sinta também os efeitos disso no âmbito mental, emocional e social. Porém, os tratamentos e os métodos de reabilitação disponíveis permitem que muitas pessoas com esse tipo de lesão levem uma vida produtiva e independente

Além disso, estudos estão em andamento em todo o mundo. Muitos cientistas se mostram otimistas com os avanços nas pesquisas e enxergam a possibilidade de um dia vir a ser possível o reparo desse tipo de lesão. Confira este artigo e saiba mais:

Lesão medular: dados epidemiológicos

A incidência mundial anual de trauma raquimedular (TRM) é da ordem de 15 a 40 casos por um milhão de habitantes. Nos EUA, estimam-se cerca de 12 mil novos casos por ano. 

Devido à gravidade do trauma nestes casos, 4 mil dessas pessoas perdem suas vidas durante o resgate e transporte ao hospital, enquanto outros mil falecem durante a hospitalização.

Estima-se que no Brasil, a cada ano, ocorram 40 novos casos de lesão medular para cada um milhão de habitantes. Isto significa que todos os anos aconteçam de 6 a 8 mil casos novos. Aliás, 80% das vítimas são homens e a faixa etária mais acometida é a dos 10 aos 30 anos de idade. 

Vale ressaltar que esses números são estimativas, visto que a incidência exata da lesão medular traumática no Brasil é desconhecida. Como aqui esta condição não é sujeita à notificação, não existem dados precisos.

No Brasil o trauma é a causa predominante de lesão medular, e a incidência aqui é muito elevada em comparação com outros países. Trata-se definitivamente de uma doença de grande impacto para o nosso país. O custo econômico, social e emocional para o paciente e toda a sociedade é muito elevado. 

Nos estudos brasileiros que descrevem a ocorrência de casos em hospitais ou centros de reabilitação, é consensual que a maioria seja de origem traumática. No entanto, há divergências sobre o tipo de trauma mais comum.

Estudos em centros de reabilitação revelam que a maior parte dos casos está relacionada a acidentes automobilísticos. Ferimento por projétil de arma de fogo é a segunda causa mais comum. Por outro lado, os levantamentos realizados em centros de referência em traumatologia da cidade de São Paulo apontam para as quedas – em especial quedas de laje – como o motivo mais frequente. 

Apesar do elevado número, vale ressaltar que estes últimos estudos também mostram tendência de diminuição no índice de ocorrências por acidentes automobilísticos, sendo observado acréscimo apenas nos acidentes com motociclistas. 

Além disso, um em cada cinco casos de lesão medular têm causas não traumáticas, como, por exemplo: 

  • tumores na medula e/ou na coluna; 
  • fraturas patológicas da coluna vertebral – fraturas decorrentes do enfraquecimento das vértebras por metástases de tumores (câncer), osteoporose ou infecções (tuberculose, osteomielite etc.);
  • estenose (estreitamento) do canal medular; 
  • deformidades graves da coluna; 
  • hérnia de disco; 
  • isquemia (infarto medular), em especial associada a aneurismas de aorta;
  • infecções (poliomielite, paraparesia espástica tropical etc.);
  • doenças autoimunes (mielite transversa, esclerose múltipla etc.). 

Sintomas da lesão medular

A capacidade de um paciente controlar seus membros após uma lesão na medula espinhal depende de dois fatores: a altura da medula espinhal em que ocorreu a lesão e a gravidade/extensão do dano causado.

A extensão da lesão é genericamente classificada em completa ou incompleta, de acordo com as funções perdidas/preservadas:
  • Completo – é quando toda a função sensitiva (sensibilidade) e toda a função motora (capacidade de controlar o movimento) forem perdidas abaixo da lesão da medula espinhal;
  • Incompleto – quando alguma função motora ou sensitiva estiver preservada, mesmo que parcialmente, abaixo da área afetada, a lesão é considerada incompleta. Existem vários graus de lesão incompleta.
Além disso, a paralisia decorrente de uma lesão da medula espinhal pode ser genericamente classificada da seguinte maneira:
  • Paraplegia – quando o controle das pernas, órgãos pélvicos e todo ou parte do tronco foi perdido. Quando o controle não está totalmente perdido, se utiliza o termo paraparesia;
  • Tetraplegia – quando, além do controle das pernas, tronco e vísceras, o controle dos braços mãos também é perdido;
  • A equipe de saúde executará uma série de testes para determinar o nível neurológico e a integridade da lesão.
Lesões da medula espinhal de qualquer tipo podem resultar em um ou mais dos seguintes sinais e sintomas:
  • perda de movimento;
  • perda ou sensação alterada, incluindo a capacidade de sentir calor, frio e toque;
  • perda de controle do intestino ou bexiga;
  • atividades reflexas exageradas ou espasmos;
  • mudanças na fertilidade, função e sensibilidade sexual;
  • dor ou sensação de picada intensa causada por danos às fibras nervosas da medula espinhal;
  • dificuldade para respirar, tossir ou limpar as secreções dos pulmões.
Em caso de sinais e sintomas de emergência de uma lesão na medula espinhal após um acidente podem incluir:
  • dor nas costas ou pressão extrema no pescoço, cabeça ou costas;
  • fraqueza, falta de coordenação ou paralisia em qualquer parte do corpo;
  • dormência, formigamento ou perda de sensibilidade nas mãos, dedos, pés ou dedos dos pés;
  • perda de controle da bexiga ou intestino;
  • dificuldade de equilíbrio e caminhada;
  • respiração prejudicada após lesão;
  • pescoço ou costas estranhamente posicionados ou torcidos.
Não deixe de acompanhar o nosso conteúdo. Na segunda parte deste conteúdo, falaremos sobre as causas, fatores de risco, complicações, a relação do cérebro com o sistema nervoso central e quando procurar um profissional especialista. Fique de olho!

Por Dr. Nucelio Lemos, Dra. Priscila Maia-Lemos e Dr. Felipe Lemos