Linfedema e Terapia Complexa Descongestiva Após Tratamento do Câncer de Mama


Com uma incidência de aproximadamente 20%, o linfedema é um dos efeitos colaterais mais comuns do tratamento do câncer de mama.

O linfedema consiste no acúmulo de líquido e proteínas no espaço intersticial, que é o espaço entre uma célula e outra no corpo humano. Isso é resultado da ineficiência do sistema linfático, e se dá pelos danos causados a esse sistema durante o tratamento do câncer de mama, pela cirurgia ou pela radioterapia.

Observa-se o linfedema pelo aumento da largura do braço próximo à mama acometida, que pode vir acompanhado pela diminuição da elasticidade da pele, pela sensação de peso ou aperto e a dificuldade de elevar o membro. 

Num primeiro grau, observa-se uma suavidade durante a palpação, que melhora quando o membro é elevado, mas ele pode evoluir, ficando cada vez mais irreversível e a pele cada vez mais rígida. 

Os maiores fatores de risco para o aparecimento do linfedema são a obesidade, a idade, e a extensão da cirurgia, mais especificamente relacionado à ressecção dos linfonodos axilares e a quantidade de linfonodos removidos. 

Uma das principais formas de tratar o linfedema de forma conservadora é a Terapia Complexa Descongestiva, realizada pelo Fisioterapeuta.  

A terapia complexa descongestiva possui cinco componentes: 

  • os cuidados com a pele; 
  • a drenagem linfática manual; 
  • a terapia de compressão; 
  • os exercícios para o braço e o ombro;
  • os exercícios respiratórios. 

O tratamento se divide duas fases. Na primeira fase, a intensiva, o paciente deve passar por todos os componentes, com a frequência e intensidade estabelecidas pelo fisioterapeuta.

Já na fase de manutenção, o paciente é orientado a realizar os exercícios e a compressão de forma domiciliar, e só comparecerá à fisioterapia para realizar a drenagem linfática quando necessário. 

Além disso o paciente será orientado a monitorar o linfedema e procurar auxílio se houver alguma mudança.

Cuidados com a pele

Os pacientes que realizaram cirurgia com ressecamento de vasos linfáticos ou retirada de linfonodos devem ter um cuidado especial com a pele e o braço do mesmo lado da mama operada. 

Ferimentos, infecções ou queimaduras se tornam um fator de risco muito importante para o aparecimento do linfedema. 

Drenagem linfática manual

A drenagem linfática manual é uma técnica de massagem que tem o intuito de estimular o fluxo linfático, a atividade dos linfonodos, a formação de novas células linfáticas e de vias alternativas para o escoamento da linfa. 

Outras técnicas de terapia manual também são importantes para melhorar a consistência e a maleabilidade da pele e da cicatriz cirúrgica, que também são fatores que, se não forem devidamente cuidados, podem favorecer o acúmulo de líquido.

Terapia compressiva

Pode ser feita por vestimentas de diferentes níveis de compressão ou por enfaixamentos, com o intuito de oferecer uma resistência ao acúmulo de líquido. Também entram nessa terapia o uso de dispositivos compressivos que auxiliam o bombeamento do líquido, como o aparelho de compressão pneumática.

Um método mais novo, porém, que apresenta bons resultados no controle do edema, é a bandagem. Esta terapia envolve a aplicação de fita elástica termo-adesiva de tal maneira que a drenagem linfática para os nódulos linfáticos é facilitada.

Exercícios

Os exercícios para o braço e para o ombro podem ser feitos para ganho de amplitude de movimento de todas as articulações do membro e para o ganho de força muscular. 

De preferência, os exercícios devem ser feitos de acordo com o sentido da drenagem do líquido linfático, das extremidades em direção ao tórax, diminuindo assim os riscos de evoluir o linfedema. 

Os exercícios são benéficos por recrutar os músculos que ajudam a bombear o líquido estacionado e por fazer com que o paciente consiga aumentar o uso do membro superior nas atividades do dia a dia e consequentemente a drenagem linfática natural. 

Exercícios respiratórios

O sistema linfático é estimulado pelas mudanças de pressão das contrações musculares ou da respiração profunda, que melhora o bombeamento nos vasos linfáticos profundos do tórax provocando um efeito vácuo nos vasos linfáticos mais periféricos e estimulando o fluxo linfático.

Exercícios que envolvem tanto a contração muscular periférica, como a contração diafragmática em respirações profundas, são de extrema importância para a recuperação ou prevenção do linfedema.

Resultado do tratamento

Quanto antes se iniciar a terapia complexa descongestiva, melhor será o resultado do tratamento, por isso é fundamental que os pacientes se mantenham alerta sobre o aparecimento do linfedema e sejam adeptos às formas de prevenção, tais como manter os cuidados com a pele, monitorar o membro, manter um estilo de vida ativo e manter um peso corporal adequado. 

Uma equipe multiprofissional com enfermagem, nutricionista, médico, fisioterapeuta e educador físico podem ser muito importantes para abordar todos os aspectos relacionados à prevenção e o manejo adequado.

Por Dra. Juliana Nucci Nogueira Prado - CREFITO-3: 174.677-F

Referências Bibliográficas

Cheifetz O, Haley L; Breast Cancer Action. Management of secondary lymphedema related to breast cancer. Can Fam Physician. 2010 Dec;56(12):1277-84.

Stuiver MM, ten Tusscher MR, Agasi-Idenburg CS, Lucas C, Aaronson NK, Bossuyt PM. Conservative interventions for preventing clinically detectable upper-limb lymphoedema in patients who are at risk of developing lymphoedema after breast cancer therapy. Cochrane Database Syst Rev. 2015 Feb 13;(2):CD009765. 

Lacomba MT, Sanchez MJY, Goñi AZ, Merino DP, Del Moral OM, Téllez EC, et al. Effectiveness of early physiotherapy to prevent lymphoedema after surgery for breast cancer: randomised, single blinded, clinical trial. BMJ. 2010;340(b5396):1-8.