Reconstrução mamária e autoestima



Aproveitando o Outubro Rosa deste ano, vamos falar um pouco sobre a reconstrução mamária, seus aspectos clínicos e como a Psicologia se faz imprescindível na recuperação das pacientes que passam por esse procedimento.

Para explicar essas questões, convidamos para um bate papo esclarecedor o Dr. Fernando Amato, cirurgião plástico, e a Dra. Livia Cristina Viana, Psicóloga e membro da Equipe Increasing. Confira:

De modo geral, o que é uma mastectomia?

Dr. Fernando - A mastectomia corresponde ao procedimento de ressecção, ou seja, extração total da mama, incluindo o mamilo. Mas vale lembrar que quando se fala em tratamento do câncer de mama essa não é a única abordagem cirúrgica. Também existem indicações para ressecções parciais e conservadoras.

Existem diferentes tipos de reconstrução mamária?

Dr. Fernando - Sim, existem vários tipos de reconstrução e dependerá da deformidade  causada, das características das pacientes e também do desejo de reconstrução de cada pessoa. 

As reconstruções são divididas entre imediata ou tardia, sendo que a imediata ocorre no mesmo evento da ressecção da mama ou do tumor. Podem ser realizadas com retalhos locais, ou seja, com o próprio tecido que sobrou na mama. Por outro lado, também pode ser feita com o uso de expansor mamário, que é uma espécie de bexiga que é preenchida com soro no ambulatório e ajuda a esticar os tecidos para depois ser trocada por uma prótese de silicone. Aliás, isso pode ser feito diretamente com prótese de silicone ou com retalhos musculares, e neste caso é usado músculo e pele de outra parte do corpo - geralmente retirado do abdômen e das costas - para fazer essa reconstrução. Também pode ser realizado enxerto de gordura.

Qual é o tempo de recuperação da paciente após o procedimento?

Dr. Fernando - Essa é uma questão muito individual, mas geralmente a paciente fica com limitação na movimentação dos braços e limitações de esforço físico por cerca de um mês.

Toda mulher que perdeu parcial ou totalmente a mama pode realizar a cirurgia de reconstrução?

Dr. Fernando - Se possuir condições clínicas, sim!

O que se busca com a reconstituição da mama?

Dr. Fernando - Basicamente, reconstrução da autoestima e melhor qualidade de vida. Também devemos destacar que esse procedimento tem um caráter funcional importante. Por exemplo: uma paciente com mamas grandes que é submetida a uma mastectomia unilateral poderá ter alterações posturais pela grande assimetria mamária, o que pode causar algumas complicações ortopédicas, e isso também deve ser monitorado e corrigido da maneira mais eficaz.

A mama reconstruída pode perder a sensibilidade?

Dr. Fernando - Sim, pode ter alteração da sensibilidade parcial e totalmente, porém cada caso deve ser analisado individualmente.

Qual é a importância de um atendimento multidisciplinar em casos de paciente com câncer de mama?

Dra. Livia - O câncer de mama não está isolado. A pessoa, com sua história, passa a ter que enfrentar uma questão corpórea que demanda soluções médicas, psicológicas, fisioterápicas, nutricionais etc. Sendo assim, a assistência ao paciente com câncer de mama deve ser multiprofissional, já que se trata de uma intervenção que engloba fatores biopsicossociais e espirituais.

Qual é o papel da Psicologia na manutenção da autoestima de uma paciente que passa por este procedimento?

Dr. Fernando - São pacientes debilitados, às vezes sem apoio familiar, que perdem autoestima e autoconfiança, e com certeza a Psicologia ajuda a resgatar esses pontos.

Dra. Livia - Um dos aspectos que podem sofrer impacto emocional frente ao diagnóstico de  câncer de mama é a auto estima. A mama é uma parte do corpo da mulher que normalmente está associada para além das questões estéticas, está ligada à construção de uma imagem corpórea e simbólica, junto às questões de identificações ao feminino. A assistência psicológica terá papel fundamental na escuta e avaliação das possíveis representações que esse diagnóstico despertou na paciente. A partir disso, dá para propor medidas interventivas que auxiliem a pessoa a descobrir condições de enfrentamento para tal situação.

Aliás, existem muitas fantasias de morte e de mutilação que aparecem associadas ao diagnóstico e tratamento do câncer de mama. A manipulação do corpo pode ser traumática, de acordo com as representações simbólicas que aquele procedimento remete ao sujeito.

A técnica cirúrgica também é tema de fundamental importância a ser trabalhado pela paciente, junto ao psicólogo e equipe médica. Muitas vezes, em função de questões clínicas, para o médico cirurgião não é possível prever 100% no pré-operatório a técnica cirúrgica que será realiza, porém é de extrema importância que a paciente dialogue com seu médico a respeito de suas expectativas, o que de fato espera em relação ao procedimento cirúrgico para que consiga manter-se confiante e articulada às reais possibilidades propostas por sua equipe.

Relacionamento conjugal, sexualidade, trabalho, planos futuros de vida interrompidos, vergonha, culpa e mudanças corporais são temas recorrentes que serão abordados por essas pacientes ao longo de seu tratamento psicológico.

Sabemos que a autoestima vai muito além de questões meramente estéticas, pois também está ligada aos pensamentos e atitudes. Pensando nesse sentido, quais dicas são fundamentais para a paciente?

Dra. Livia - Posso listar algumas dicas:

  1. importante que a paciente busque um suporte psicológico desde o início de seu tratamento para que possa desenvolver estratégias de enfrentamento dessa situação;
  2. em alguns casos, o suporte psiquiátrico pode também ser uma opção que pode ser avaliada junto ao seu médico e seu psicólogo;
  3. estar próxima de seus laços afetivos positivos, pode lhe manter mais motivada no enfrentamento desse processo;
  4. perder pode ser o primeiro passo de um recomeço;
  5. a sua beleza transcende seu corpo, ela é expressa através dos seus gestos, de suas atitudes com você mesma e com o outro;
  6. use e abuse do suporte de sua equipe multiprofissional.

E qual é o papel dos amigos e familiares dentro desse contexto?

Dra. Livia - Os laços afetivos positivos, sejam eles da família ou de amigos, podem ser um recurso bastante interessante para manter-se motivada e seguir o processo do tratamento com maior tranquilidade. Por isso, busque estar perto daqueles que fazem você se sentir bem. Já sobre os laços que lhe incomodam, utilize para seu crescimento pessoal. Os problemas nos obrigam normalmente a novas estratégias, novos caminhos na busca de uma solução. Converse com seu psicólogo sobre aquilo que estiver lhe gerando angústia.