Sim. Uma mulher que sofreu traumatismo raquimedular pode, sim, gerar uma vida. Lesões medulares não causam infertilidade ou alterações hormonais, mas para isso é preciso estar devidamente instruída e preparada. A gravidez requer cuidados preventivos para que a mulher tenha uma gestação saudável, tranquila e com boa adaptação às transformações físicas e emocionais que ocorrem nesse período.
Conforme explica a fisioterapeuta pélvica Dra. Andréa Zaher, que integra a equipe do Increasing (Instituto de Cuidados, Reabilitação e Assistência em Neuropelveologia e Ginecologia), alguns problemas pré-existentes e alterações fisiológicas da gestação podem ser agravados na lesão medular e devem ser acompanhados por uma equipe multidisciplinar. A infecção do trato urinário, a dificuldade no manejo da bexiga e do intestino neurogênico, a anemia, o tromboembolismo venoso, as úlceras de pressão, a espasticidade, a hipotensão, dificuldades respiratórias e a disreflexia autonômica são alguns desses desafios.
“A gestante portadora de lesão medular precisa de cuidados pré-natais que garantam o desenvolvimento saudável e seguro do binômio materno-fetal, bem como considerem as particularidades físicas e fisiológicas desta mulher. Ter uma equipe cujo obstetra esteja familiarizado com estas condições, bem como um time multidisciplinar treinado e experiente na condução desta paciente em todas as suas fases, é fundamental para uma boa experiência e um bom desfecho da gestação ao parto”, complementa a Dra. Augusta Morgado, ginecologista e obstetra do Increasing.
“Manter bons hábitos alimentares e ingestão adequada de líquidos é fundamental, bem como permanecer com o regime de esvaziamento vesical e intestinal que se fazia previamente à gestação. Essa rotina somente será alterada caso haja necessidade com o decorrer da gravidez. Atualmente o CIL (cateterismo intermitente limpo) é o método mais indicado para o esvaziamento vesical, evitando a utilização de drenagem contínua e prevenindo infecções do trato urinário”, explica a Dra. Andréa Zaher.
A constipação intestinal é uma queixa constante entre as gestantes e necessita de medidas para facilitar o processo de evacuação, tais como: aumentar o consumo de fibras e a ingestão de líquidos, estimular o trabalho dos músculos do abdome, instruir automassagem abdominal, entre outras.
De acordo com as profissionais, a anemia fisiológica é comum na gestação. Um estado nutricional ruim pode alterar a elasticidade da pele e favorecer o aparecimento de lesões por pressão. Essas lesões também podem ser comuns no final da gravidez devido a diminuição da mobilidade e a dificuldade nas transferências pelo aumento de peso da gestante. As mudanças de proporção do corpo podem levar a más adaptações da cadeira de rodas e fazerem com que adequações de assentos e medidas sejam, temporariamente, necessárias e, portanto, as inspeções da pele e avaliações dos equipamentos devem ser constantes. Medidas profiláticas como hidroterapia, massagem de drenagem linfática, uso de meias elásticas, ajustes da cadeira, correção de posturas, são indicações a serem seguidas no período gestacional. A função respiratória deve ter atenção especial, principalmente em pacientes com lesão medular alta, pois esta se altera na gestação, devido ao crescimento uterino, dificuldade de expansão do tórax e alterações da capacidade pulmonar
A Dra. Andréa Zaher argumenta que pacientes com lesão medular podem, ainda, apresentar disreflexia autonômica. “Quando a pessoa tem alguns estímulos no corpo abaixo do nível da lesão, mecanismos de resposta do sistema nervoso autonômico simpático são acionados de forma reflexa e involuntária. Se o portador de lesão medular tem, por exemplo, uma distensão na bexiga, ou seja, se a pessoa demora muito para urinar ou passar a sonda vesical, ela pode ter uma disreflexia, que ativará respostas como vasoconstrição, elevação da pressão sanguínea dor de cabeça, sensação de arrepio, sudorese, entre outros sintomas”, destaca.
“Na gestante com lesão medular, esses sintomas podem ser desencadeados por estímulos provenientes da bexiga, do útero e do intestino. Eles aparecem durante o trabalho de parto, no momento da contração do útero, e cessam ou diminuem no relaxamento deste”, complementa a fisioterapeuta.
É de grande relevância a educação para o autoconhecimento e consciência corporal. Reconhecer os sintomas que indicam contração uterina, como a pressão pélvica, o aumento da espasticidade, espasmos de abdome ou membros inferiores ajudará a gestante a perceber os sinais e a participar das fases do parto.
“O parto dessa mulher poderá ser vaginal ou cesáreo. Para tal escolha será levado em consideração o nível, o grau e a extensão da lesão, os limites articulares, a espasticidade, a musculatura abdominal, os riscos de disreflexia, entre outros. Os fatores obstétricos e riscos maternos e fetais devem ser avaliados em conjunto e serão determinantes para a escolha da via de parto mais segura a ambos”, concordam as profissionais da equipe multidisciplinar do Increasing.
No puerpério, fase que compreende do momento da saída da placenta até a volta da ovulação, a monitorização por parte da equipe multidisciplinar deve continuar. É imprescindível que durante o período gestacional seja feito um treino de adaptação às mudanças, desde posturas adequadas para as atividades da vida diária, até ajustes posturais com orientação para o aleitamento materno.
“Ter uma rede de apoio bem orientada fará toda diferença e trará a essa mãe, que acaba de nascer junto com seu bebê, mais segurança e leveza para vivenciar plenamente essa fase singular de sua vida”, finaliza a profissional.
O Increasing conta com amplo espaço com acessibilidade e profissionais especializados em ginecologia e lesão medular. Procure a unidade na Rua Dr. Bacelar, 227, em São Paulo (SP) ou se preferir ligue para (11) 3938-6177 e agende sua consulta. Há também um canal de atendimento pelo WhatsApp no número (11) 98102-0372.